Fique informado sobre as tendências do agronegócio e notícias relacionadas aos produtores rurais do país.

terça-feira, 13 de julho de 2010


A Portaria 1059, publicada no final do mês de abril pelo Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), apelidada de Leite Legal, deu uma injeção de ânimo no setor de caprinocultura de leite no Estado e vem estimulando novos investimentos por parte dos criadores. "Dos cerca de dois mil caprinocultores cadastrados em Minas Gerais, apenas cerca de 120 estão em condições de comercializar leite de cabra, devido às limitações impostas pela legislação. Mas agora, com essa conquista, esse quadro deve mudar", afirma a presidente da Associação dos Criadores de Caprinos e Ovinos de Minas Gerais (Accomig/Caprileite), Aurora Gouveia. A portaria regulamenta a utilização da pasteurização lenta no beneficiamento do leite de cabra para o consumo humano. Até então, somente era admitida a pasteurização rápida, o mesmo processo adotado para o leite de vaca, que exige alto investimento dos criadores. Para Cinthya Leite Madureira, coordenadora de Pecuária da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG), a medida causará impacto positivo na oferta do produto para os consumidores, com a inserção de muitos caprinocultores até então excluídos do mercado formal. Ela estima que o custo de um equipamento de pasteurização lenta sai em torno de R$ 4 mil. "Pequenos produtores poderão atuar em conjunto, para utilizar a capacidade máxima permitida, de 100 litros por dia", sugere. Um dos criadores animados com a nova portaria é Onivaldo Ramos Leão, com um capril com 35 fêmeas em Itabirito, ele já planeja adquirir outras 25 cabras este ano. Além de aumentar a oferta de leite e a renda dos produtores, ele prevê outra vantagem também para os consumidores. "O preço do queijo também poderá ficar mais acessível." No varejo, o leite de cabra é encontrado congelado, em sacos plásticos, com preços de R$ 1,90 a R$ 2,50 por litro, enquanto o queijo do tipo frescal é vendido entre R$ 15,00 e R$ 20,00 o quilo. Derivados Outra boa notícia esperada pelos produtores de caprinos e ovinos é a aprovação de uma lei que regula as condições higiênico-sanitárias da produção artesanal de leite de cabra e de ovelha e seus derivados. Projeto de Lei sobre o assunto (4004/2009) está em tramitação na Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Atualmente, as normas vigentes são as mesmas utilizadas pela bovinocultura. "Muitas vezes os criadores de ovinos e caprinos não têm condições de entrar no mercado formal, pois a escala de produção é muito inferior, se comparada à criação de vacas. Isso inviabiliza os investimentos. Por isso, o setor precisa de uma legislação específica, adequada ao seu porte e às particularidades da atividade", explica a coordenadora de Pecuária da Emater-MG. Cinthya Leite Madureira afirma que a caprinocultura é uma atividade com bom potencial de crescimento na agricultura familiar, pois exige investimento relativamente baixo, com boa lucratividade. "As cabras não precisam de tanto espaço quanto a criação de vacas. Além disso, os criadores têm menos gastos também com alimentação dos animais e o leite e derivados têm maior valor agregado que os de vaca", compara. Diferenças nos métodos - Na pasteurização lenta, aprovada para volumes de até 100 litros de leite de cabra processados por dia, o produto, após ensacado, fica em banho maria com temperatura de 63°C a 65°C por 30 minutos, sob constante agitação. Em seguida, é resfriado rapidamente até atingir 4ºC ou menos, podendo inclusive ser congelado. - Na pasteurização rápida, exigida para o leite de vaca, o líquido, em volumes de até 500 litros por hora, passa por placas, onde atinge rapidamente temperaturas entre 72°C e 75°C, durante 15 a 20 segundos, para então ser resfriado a 4°C. No leite de vaca, não pode haver congelamento.

Fonte: 17/05/2010 - Agência Brasileira de Notícias

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Por uma agência nacional de inovação

O Brasil hoje vive um momento especial. O País elevou seu patamar de crescimento, é fato. Mas as perspectivas de sua sustentação ainda seguem imersas em brumas. Não se trata de mais uma vez registrar o rol de conhecidos obstáculos à permanência do crescimento, mas de apontar e equacionar o desafio mais importante colocado para o País.

A economia brasileira precisa de um choque de inovação.

O necessário aumento do investimento, a melhoria da infraestrutura, a execução de uma boa gestão macroeconômica, capaz de manter domesticada a inflação, e o equacionamento no longo prazo da alta carga tributária e da dívida pública, por fundamentais que sejam, não podem turvar a visão de nossos governantes para a urgência de se promover um salto no padrão de qualidade da atividade econômica. Para isso, mais do que aumentar o investimento, é preciso melhorar o seu foco e sua qualidade, de modo a dinamizar e diversificar a economia e superar a crônica dependência brasileira do universo das commodities.

Esse é o maior desafio, que está longe de se limitar à esfera econômica. Desde o ciclo desenvolvimentista o Brasil procura repensar e modificar sua ossatura institucional, recriar sua arquitetura legal e repensar seus dispositivos políticos para se adaptar às transformações que sacudiram o mundo. O País deu passos enormes nessa direção. Mais importante ainda, caminhou rumo ao estabelecimento de um novo equilíbrio nas relações entre Estado e mercados, distante do velho desenvolvimentismo e da ortodoxia econômica que fez sucesso nos anos 90. Fato é que, sem a combinação de uma economia de mercado com um novo ativismo de Estado - sem estatismo -, dificilmente seria possível combater mazelas crônicas, como as desigualdades e a pobreza.

A sintonia entre esforço pelo crescimento e forte investimento social é a grande responsável pelo momento positivo que o País vive atualmente: ao acionar mecanismos sociais sutis, liberou energias por todos os poros da sociedade, com impacto no conjunto da economia.

Sabemos que as estratégias são mais cristalinas no papel, pois no mundo real são recheadas de ambiguidades e conflitos. Mesmo assim, é forçoso constatar que o País amadureceu e conseguiu diminuir a distância que o separa das nações mais avançadas, ainda que o caminho a percorrer seja longo.

O Brasil está hoje mais preparado para lidar com o novo lugar ocupado pelas atividades intensivas em conhecimento, que tornaram, mundialmente, os processos de reprodução da vida material, social e cultural mais complexos, dinâmicos e integrados. Essa constatação, porém, não nos leva a afirmar a inevitabilidade do sucesso. A economia está numa encruzilhada: ou as empresas evoluem, alteram seu metabolismo, dinamizam sua gestão, valorizam os recursos humanos como estratégia e buscam elevar seu padrão tecnológico e ligar-se às cadeias mundiais de alto valor agregado ou, mais uma vez, o fôlego será curto para manter o crescimento.

É essencial, por isso, que hábitos e costumes sejam alterados dentro das empresas. Mas o País só ganhará dinamismo com um esforço conjunto do setor público e do privado, capaz de envolver as universidades, o Legislativo, o Judiciário e demais instituições sociais.

A inovação no Brasil deve tornar-se regra, não exceção. Debates sobre a necessidade dessa evolução são cada vez mais frequentes e foram retomados com intensidade durante a 4.ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, realizada em Brasília em maio. Mais de 4 mil participantes mostraram que a reflexão sobre os rumos do País da parcela da elite brasileira mais diretamente envolvida com a produção de ciência e tecnologia atingiu um novo patamar.

Se conseguisse potencializar inquietações desse tipo, ainda que parcialmente, o debate eleitoral ajudaria a semear o futuro. Esperança vã?

Não custa convidar os candidatos a se pronunciarem sobre a proposta de criação de uma agência nacional de inovação, ligada diretamente à Presidência da República. Essa proposta constava do documento original preparatório à conferência e também fez parte das recomendações entregues pela Confederação Nacional da Indústria aos atuais candidatos presidenciais.

Uma agência nacional com peso, recursos e legitimidade para alavancar significativamente o investimento em inovação é essencial para diminuir a pulverização de recursos, a burocracia, a morosidade da máquina pública e manter o foco de suas atenções onde é preciso.

Uma agência desse porte, criada a partir da fusão de instituições como a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (Abdi), por exemplo, com orçamento renovado e representatividade institucional dada pela ligação estreita com os principais planos e metas da Presidência da República, pode ajudar o País a se conectar com o futuro.

Que as esperanças por um debate de qualidade sobre os alicerces de um novo Brasil não se frustrem mais uma vez.

COORDENADOR DO OBSERVATÓRIO DE INOVAÇÃO DO INSTITUTO DE ESTUDOS AVANÇADOS DA USP, É MEMBRO DO CONSELHO NACIONAL DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA

 

blogger templates | Make Money Online